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05/07/2013

Programa Agricultura Familiar e Agroecologia

Aprender e ensinar a promover saúde e sustentabilidade

A Anama promoveu, de 25 de maio a 22 de junho, uma formação em Educação Alimentar e Ambiental, dividida em três módulos. Focado em professores da rede pública do Litoral Norte, a maioria das 36 participantes eram educadoras e educadores oriundos de escolas estaduais e municipais, desde a educação infantil até o ensino médio, passando pelo ensino fundamental e a educação especial, mas havia também um guia de turismo, uma agente ambiental e quatro merendeiras. Representavam 12 cidades, de Mostardas a Torres.

 

A proposta de refletir sobre os elos entre agricultura familiar, alimentação escolar saudável, educação alimentar e ambiental envolveu uma equipe multidisciplinar composta por pedagogas, engenheiro agrônomo, nutricionista, sociólogo, engenheira de alimentos, geógrafa, técnico em agropecuária, biólogos, agriculturas, agricultores, estudantes e índios guarani. As atividades aconteceram na Faculdade Cenecista de Osório/FACOS, incluindo uma saída de campo para conhecer a experiência de produção orgânica de alimentos na propriedade do Sr. Euclides, localizada no Morro da Borússia.

 

 

Uma antiga novidade 

 

“Eu vim aprender técnicas novas, conhecer pessoas que fazem coisas diferentes. Estas informações vão me ajudar a escolher melhor os alimentos. Vou frequentar mais a feira dos agricultores ecológicos”, diz Vanira Brum, que dá aulas de química, física, biologia e matemática, para alunos com deficiência auditiva, em Torres. Ligada à terra, ela mantém uma horta no pátio de casa, onde colhe chuchu, cará, cenoura, espinafre, alface, tomate e banana. Na escola em que trabalha, conta que as merendeiras procuram preparar uma alimentação sadia, com verduras e legumes, mas que ainda há muita comida industrializada, como iogurte e bolachinhas.

Já a professora Maria Inês Gonçalves Flores, que dá aulas em Três Cachoeiras, fez seu depoimento diante de todo o grupo, ao apresentar a experiência da Teia de Educação Ambiental, juntamente com a professora Maura Monteiro Raulino. Contou que seu marido trabalha na agricultura ecológica e é certificado pela Rede Ecovida. Mas a experiência de Maria Inês com os alimentos e os remédios naturais vem de gerações anteriores, pois conta que sua avó vivia apenas das plantas. Ela reflete que hoje há um retorno à valorização desse conhecimento. “Esta região era de indígenas que sobrevivem da natureza. Eu cresci sem tomar antibiótico. Hoje, vejo que a gente não precisa ir para a farmácia comprar remédio, se a natureza tem tudo, uma infinidade de plantas e ervas que nós temos. Por que me intoxicar com uma coisa que vendem a ideia de boa, se as ervas eu já sei que são boas?”, ela completa.

 

Maria Inês é professora na escola rural EEEF Dom José Barea, que já tem anos de trabalho com educação ambiental. Boa parte dos alimentos consumidos pelos alunos são produzidos na própria instituição, uma proposta bem diferente da realidade vivida pelos estudantes em suas próprias casas. “Nossas famílias de agricultores fazem rancho no supermercado. Trabalham a monocultura, um tipo de alimento que eles plantam para vender, um produto. A prioridade lá da região é banana. Então eles vão buscar o feijão onde? No mercado. Os alimentos já vêm empacotados, as mães colocam na geladeira, que é mais prático pra ser usado. E um alimento mais saudável tem que ser preparado com mais carinho”, ensina. Por isso, montaram uma cooperativa de consumidores para comprar produtos locais de agricultores que trabalham sem venenos, uma forma de incentivar a produção ecológica na região e consumir alimentos saudáveis.

 

As atividades do curso aconteceram em três partes: Da agricultura familiar à mesa das escolas: ressignificando à alimentação escolar; Educação Ambiental como um dos alicerces da produção de alimentos saudáveis; Educação Alimentar e Ambiental promovendo sustentabilidade socioambiental. Fazem parte do projeto Agricultura Familiar e Agroecologia: qualidade de vida e geração de renda no Litoral Norte do RS, que tem patrocínio através do programa Petrobras Desenvolvimento e Cidadania.

 

 

 

 

Para apresentar as principais temáticas e falar sobre os saberes e sabores socializados nesta formação, a partir de hoje vamos publicar o depoimento de três das participantes (um por semana), que estiveram envolvidas na organização e no compartilhamento de conhecimentos durante o curso. São suas visões sobre assuntos que perpassam a educação ambiental e o contexto em que se trabalham conflitos e mudanças sociais ligadas à terra, ao alimento, à natureza.

 

Começamos com Valéria Bastos, organizadora do curso, Coordenadora Pedagógica, Mestre em Psicologia e integrante da equipe técnica do projeto Agricultura Familiar e Agroecologia da Anama.

 

 

Alimentos com valores nutricionais e humanos

 

Esta linha de trabalho transversal, que é a educação, a formação de pessoas, sejam agricultores, merendeiras, professores, técnicos, é um trabalho que a Anama vem fazendo desde a sua origem. E o projeto da agricultura familiar e agroecologia, que a gente está trabalhando há 03 anos, tem o eixo Educação, com o objetivo de desenvolver ações para fortalecer e contribuir para garantir a segurança alimentar e nutricional, a qualidade de vida das pessoas. Gerar também, em especial, este novo olhar em torno da agricultura familiar, do alimento e da produção deste alimento. Os produtores, quem está processando, comercializando, consumindo, que produto é este que se consome, qual o benefício dele para a saúde, para o meio ambiente, para a qualidade de vida de todas as pessoas que estão nesta corrente produtiva do alimento agroecológico, que é este alimento diferenciado, com valores nutricionais e humanos.

 

 

Multiplicadores de hábitos saudáveis e consumo consciente

 

A ideia é que os professores sejam multiplicadores deste conhecimento, e não é só na escola que vão mudar, é na vida deles também, no âmbito familiar, no circuito social em que estão inseridos. Despertar para a agroecologia e começar a querer este alimento na escola. Tem município no RS que 100% dos alimentos oferecidos na alimentação escolar vem da agricultura familiar. Aquele alimento que já está vindo preparado para a escola, que é só esquentar e servir, não é isso que se quer, mas sim aquele que vem do milho crioulo, que é mais nutritivo do que uma batata inglesa, que hoje é produzida com muito veneno.

No ano passado, a Anama organizou um (curso) focado para nutricionistas, professores e funcionários das escolas que trabalham com a compra da alimentação escolar, para que conheçam e defendam mais estes 30% (por lei) que vão de produtos da agricultura familiar para a alimentação escolar. Com merendeiras a gente desenvolve oficinas de culinária e agroecologia, fazer e provar ali este alimento rico. É interessante quando a pessoa prova e vê o valor cultural junto. Tem esta coisa de: “ah, no meu tempo de criança eu comia também”; “este cheiro me fez lembrar minha avó”; “ah, quando eu era pequeno...”

 

Da política ao povão

 

A equipe da Anama tem ações desde os Comitês aos Conselhos, dos meios políticos à articulação solidária das frutas nativas, que está reunindo atores do Estado. Nestes âmbitos políticos a gente vai, às vezes cansa, mas estamos colocando energia porque ali também a gente sente que pode mudar um pouco o sistema. Mas a sementinha que a gente planta na educação popular, nas pessoas, isso é que vai trazer a mudança. É na agricultora, na professora, no aluno, é ali. Então a gente consegue participar desses espaços de decisão em prol do desenvolvimento saudável, agindo nesses meios, mas o que mais gosto é do povão mesmo, no despertar, fazer com que as pessoas tenham uma qualidade de vida melhor.

 

Novos rurais para outro mundo realizável

 

Precisa de mais Anamas, precisa de agricultores, porque muita gente no meio rural está envelhecendo, e precisa de “novos rurais” para despertar esta nova relação com a terra... Do princípio, é a terra, é a semente que tu vai guardar pras futuras gerações. Quem está na cidade, se pensar em qualidade de vida a longo prazo, tem que ir resgatando o contato com a terra, com o alimento. Como apareceu na avaliação do trabalho pelos professores, dizendo: “como eu queria plantar meu próprio alimento, mas ainda não consigo”; “ah, uma hortinha em casa...”. E, depois, o pessoal me procurando para pegar sementes. Se tiver mais pessoas envolvidas em ações que tenham estes objetivos, um outro mundo é realizável.

 

A perspectiva da educação alimentar na educação ambiental

 

A proposta do curso é formação em educação alimentar e ambiental. Fizemos questão de colocar o alimentar primeiro para incorporar a perspectiva alimentar junto da ambiental, a produção de alimentos e meio ambiente. E como um professor em casa e na escola pode promover esta cadeia sustentável. É um processo de formação, uma coisa que a gente quer que as pessoas levem para sempre, para quando ficar velho passar para o netinho. Porque a maioria dos professores tinham experiencia com educação ambiental, o lixo, a reciclagem, e agora tem também a perspectiva da educação alimentar para promover este meio ambiente sustentável.

 

Chega de comida industrializada e de “blá, blá, blá

 

E a ilusão desse alimento (industrializado)... Ontem a gente escutou que as pessoas ficam 10 minutos por dia na cozinha, e olhe lá. Não cozinham mais, não sentam mais à mesa para comer. É só o mais prático, colocam ali no micro-ondas, em dois minutos está quente e vão comer na frente da TV. O alimento está sendo produzido para atender estas pessoas, e as grandes empresas que estão ganhando com isso, estão ganhando terra, ganhando o mercado, e o povo está ficando doente. As doenças estão aí, cada vez piores. Então tem que ter um outro olhar do alimento e do se alimentar, aquilo que vou consumir pra me dar energia e qualidade de vida.

 

Começar a estimular com o agricultor familiar também, com assessoria técnica. Porque este agricultor que quer mudar da produção convencional para ecológica, neste período de transição não pode deixar de vender o alimento, porque primeiro precisa se estruturar, estruturar a terra, o sistema de produção.

 

E se o povo começar a despertar pra esse alimento que vai gerar saúde pra ele e pras gerações futuras, vai ter que ter mais terra produzindo alimento de qualidade. E, aí, se choca com esses latifúndios, com esta (monocultura da) soja, com os transgênicos. Quando a gente participa dessas conferências em nível nacional, estadual ou regional é pra gente tentar mudar, porque se for só pra “blá, blá, blá”, não se deve gastar energia ali. Vamos continuar lá com a dona Maria, investir energia em outras pessoas, porque aí sensibiliza mais, e dá mais volume para conseguir as mudanças.

 

*Este curso contou com a parceria da Rede de Educação Ambiental do Litoral Norte do RS, da Faculdade Cenecista de Osório/FACOS, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Rural e Mata Atlântica/DESMA e do Núcleo de Estudos em Segurança Alimentar e Nutricional/NESAN.

 

 

 

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